QUEM FOI O DIABO (PARTE I)
Baseado no texto inspirado por Deus a Ezequiel em meados de 586 a. C. durante o cativeiro hebreu na Babilônia, podemos ter uma noção básica de quem foi essa criatura antes que a queda ocorresse.
Seu nome original foi Lúcifer – Anjo de Luz – e nas das muitas hierarquias destinadas às hostes celestiais, ele estava dentre os querubins. Seres criados especialmente para estar – ou representar – a glória de Deus. Possuem quatro asas, duas que cobrem seus corpos e duas que cobrem o ambiente onde estão. Sua função específica era de querubim da guarda, ungido como um ser de grande sabedoria e beleza. As escrituras sagradas dizem que não havia nada mais belo, considerado “o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura.” [1]
Tamanho portento possuía vestes especiais, adornadas por pedras preciosas “criadas especialmente para ele no dia de sua criação.” [2] A Bíblia ainda diz que Lúcifer estava continuamente no “monte santo”, e que no brilho de suas pedras andava. No Reino para o qual foi criado possuía certa autonomia, tinha funções específicas a exercer, era perfeito e respeitado.
Mas um dia tudo mudou, seu coração se encheu de orgulho e declarou: Eu sou Deus, sentarei sobre Seu trono e serei igual a Ele. A vaidade, formosura e esplendor corromperam a sabedoria que possuía[3], tornando-o orgulhoso e rebelde ao seu Criador.
Algumas teorias apontam para o Big Bang – o ponto inicial de criação do universo que conhecemos – como o momento em que o querubim mais precioso de todo o Reinado foi expulso da presença de Deus, causando um cisma, dividindo o “TODO” em dimensões e céus distintos.
Mesmo criaturas, os anjos possuem livre arbítrio e podem decidir por si o que e a quem seguir. Justamente por este fato Satanás ao ser banido, levou consigo um terço dos exércitos celestiais, provando que tinha semeado a mesma semente de rebelião em seus corações. Por vontade própria, eles “abandonaram sua própria habitação e não guardaram seu principado” [4], seduzidos pela promessa de algo maior e melhor que seu líder lhes incutiu.
Surge então a seguinte questão: Se ouvimos dizer que Deus é perdão, por que Ele não perdoa a Lúcifer?
Seres celestiais não são humanos, eles foram criados para obedecer a ordens e possuem funções específicas. Executam a vontade de Deus em quaisquer esferas, sejam elas espirituais ou físicas. O livre arbítrio é dom de todas as criaturas divinas, mas a obediência é a principal condição para se permanecer na presença do Altíssimo. Neste caso especificamente, não existe a possibilidade de arrependimento, logo o perdão é impraticável. Para estarmos diante de Deus – o Deus altíssimo – precisamos estar livres de qualquer sombra de pecado, puros como o ouro refinado, ou padecemos instantaneamente[5]. A morte neste caso vai além da questão física, engloba a ausência permanente da presença do Pai. E essa foi a opção feita pelo principal inimigo divino.
Ao banir a Lúcifer, Deus estava tomando a única atitude que não contrariava Sua perfeição. Não se alegrou, mas fez o que era necessário, mesmo sabendo – já que a Onisciência é parte de sua natureza – que todo o processo de criação do homem estaria comprometido.
Satanás por sua vez, sabendo dos planos divinos de criar seres semelhantes a Ele, passou a habitar no local escolhido e, esperando pacientemente, desenvolveu todo um plano para frustrar todo o processo criacionista humano.
Chegamos então ao princípio de todas as coisas, a gênese humana, onde “a terra era sem forma e vazia e onde havia trevas sobre a face do abismo.” [6] Neste texto percebemos que Lúcifer já estava sobre a terra quando Deus iniciou a criação das condições necessárias para receber os descendentes daqueles que seriam chamados Seus filhos. E nas palavras seguintes percebemos inclusive certo pesar por parte do Senhor ao lermos que “o Espírito de Deus movia-se sobre a face das águas,” e num momento é dito: “Haja Luz, e vendo que era bom, fez separação entre luz e trevas.” [7]
Os planos de Deus tomaram forma física. A terra passou a ser “ornamentada” para receber o homem. Por outro lado, toda a essência benigna de Lúcifer deixou de existir, e aquilo que o isolou da presença de Deus passou a ser o combustível para que ele e seus anjos pudessem frustrar, aniquilar e matar o ser humano, considerado a coroa da criação.